sábado, 27 de novembro de 2010

O patriarca e o velho.

O patriarca caído é o velho.

O velho bebe cerveja e mija nas calças.

Rí da própria desgraça.

Rí por que não tem saída, ri sem graça. Enquanto aquelas – e todas somos aquelas por não sermos eles, mesmo sendo dos que tem pintos – ao redor olham com vergonha.

O velho inútil é o patriarca decaído.

O velho não é inútil, acreditou na sua inutilização. Que ele mesmo constrói. O patriarca jogou o jogo do capital.

As regras foram há muito colocadas, empurradas, feitas acreditar. Aceita velho, subjulgue-se às crias, àos jovens, ao novo patriarca que surge. Macho fétido.

A hora de sentir, em doses nada comparáveis, todo o desprezo e invisibilidade que colocou sobre aquelas que te alicerçavam. A ti sobrou conversar com a faxineira, que por anos ignorou. Ao agora invisibilizado sobrou sociabilizar-se com aquela eterna invisibilizada por ti.

Agora, na terceira idade, tem filhxs crescidxs, netxs nascidxs, casa quitada e troca de carro todo ano.

Mas é inútil. É risível. É lastimável.

O invisível incomoda!

É velho!

terça-feira, 23 de novembro de 2010

fato poético patológico.

A embriaguez, a loucura e a coragem são estados de anomia.

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Confessionário

A porta estava entreaberta quando cheguei – como ele disse que estaria. Era por volta das dez da manhã, horário em que o sol começa a ficar quente demais para as minhas botas.
Ele mal me olhou, esticou a mão e me entregou dentro de uma sacolinha de supermercado. Eu tremia. Tremia e suava pelas mãos. Peguei, soltei um ‘boto fé, valeu pela força’ e deixei o dinheiro em cima da mesa. Sequer conferi o pacote, fazer isso seria desnecessário, já que não saberia o que averiguar. Não queria ficar mais um minuto sequer alí.

Peguei o mesmo ônibus, fazendo o caminho inverso. Talvez a essa hora ela já estivesse a caminho da minha casa.

Nunca pensei que poderia fazer isso. Nunca me ví nessa situação. Querendo ou não estava fazendo algo ilegal e criminoso, porém totalmente revolucionário. Estava realmente colocando em prática o meu discurso. Uma briga que comprei pelos corpos que não são meus. Pelos corpos que nunca serei.

Confesso que tive medo. Muito medo. Afinal de contas defender uma idéia é muito diferente de executá-la. Confesso também que no caminho pensei em cada argumento que sempre fui capaz de derrubar, em cada argumento que desligitimei. Mas a verdade é que...e se tudo aquilo fosse um erro? E se eu estivesse sendo cúmplice de um assassinato? Vale a máxima de que terminam nossos direitos quando começa o do próximo?

Sacudi a cabeça e lembrei-me que a questão é que é sempre o próximo, sempre o próximo e sempre a anterior. E a anterior nunca tem direitos.

Pensar aquelas coisas me fez sentir um covarde, um hipócrita.
Apesar de todos essas questões em minha cabeça, não havia espaço para ‘tomar uma decisão’, a decisão foi tomada ideologicamente há muito tempo. No tempo em que assumi o roxo como a cor da minha revolução.

Por que as revoluções tem cores, e a revolução vermelha já está muito desbotada.
Cheguei finalmente em casa. E no portão ela chorava. Disse-me que havia desistido, que realmente tinha sido culpa dela.

Dizia que não podia. Não tinha direito. Era seu dever. Sua obrigação. Sentia-se um monstro fazendo aquilo. Disse que teria volta. Que tudo na vida tem volta.

Entramos e pedi para que se acalmasse. Dei um suco de maracujá e ligamos a TV no Chaves. Preferi não dizer nada, apenas a acariciei por um tempo, e ria da TV forçadamente.
Dizer a ela que era sua decisão era colocar muita responsabilidade em cima dela mesma. Dizer que era decisão dos dois era deslegitimar mais uma vez sua autonomia – até porque os dois não existiam. Por isso preferi não dizer nada.

Sem dizer nada, escovei os dentes mais um vez e calcei as botas. Ela nada disse. Andamos as cinco quadras a pé, o endereço era fácil de encontrar.

A porta estava entreaberta quando ela chegou.

Seriam os sentimentos coisas a serem acessadas, como uma função-interruptor? E quando o corpo toca o outro corpo, sente o calor, a textura, o cheiro. Basta isso para recarregar durante horas o cérebro de imagens e vontades.
Estávamos lá esperando ansiosamente podermos sair. O convívio com ele durante aqueles minutos ( que somados viraram horas rapidamente) foi obrigatório e inadmissível, afinal: o que fazia eu lá? Ao lado daquele farçante. Farçante e fingido.
Após isso era fechar os olhos e querer sexo.
Para aqueles que já deitaram-se para amar, basta o olhar.
E tudo deve passar.

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Trolha, Oswaldo e a racha.

O pau para Oswaldo sempre pareceu algo intrigante, curioso. De tantas – e tantos – formas já havia se encontrado com o seu.
Seguia-se um regra cronológica.Primeiro encontra na coxa: coxa com pau, pra sentir, pra medir. E isso nunca na expectativa que fosse grande, desses ele nunca fez questão. Preferia, sempre, os outros. Depois o encontro era com as costas da mão. O pau, passsando ali, quase como sem querer, sempre levando a mão do outro, sempre sem querer. A troca era necessária, é até uma questão de confiança. Por isso era sexo, o fluxo do desejo tinha de advir dos dois. Pau com pau, guerra de espadas, e essa era a visão que a Oswaldo mais agradava, e depois a sensação que vinha de trás. O cu. O cu é o não-pau, e o pau é o não-cu. O encontro é o sim, razão. Todos os paus.
Certa vez Oswaldo ouviu a expressão “trolha no rabo”. Seja lá o que for trolha, pega bem. Trolha! "Trolha no rabo de Oswaldo! – gritam as multidões." Daria uma ótima cena de filme.
A questão das bucetas..., Como seria em seu corpo uma buceta? Uma buceta de fato, não essas vendidas nas revistas – rosas e carecas. Uma Buceta Peluda. O mito da buceta baseava não no o que ela é. Mas em um de seus produtos: gente. Sai sangue e explode humanidades. Abraçar a barriga de uma grávida é abraçar o mundo, ou o nada.
Mas sai também gozo, o vapor esquenta e a racha mela. Talvez por isso sempre preferiu, quando criança, abraçar aos postes de concreto no fim da tarde, quentes, ásperos e secos. Como paus.

Carta de Amor I

Querido leonino,
Sabendo que você entende o que é o orgulho de leão, sei que se eu pedir não irás dizer por aí que sou capaz de produzir tais palavras piegas; já que isso não combina com a mascara que uso.
Porém, o importante é que adorei estar próximo a ti todo esse tempo, e descobri quão legal tu és. E quão bem sabe meter a língua nos buracos. Como sabe fazê-la do melhor buraco para minha porra. Adorei a maneira como rolou naturalmente, romanticamente e secretamente.
Não sei o que significou pra ti, ou se de fato significou.
Cometo aqui o suicídio de dizer que para mim não foi apenas uso dos corpos. Já que tais sentimentos são descartáveis e não se repetem (há dúvida nisso). Digo suicídio porque apesar do boa trepada, não te conheço suficientemente para revelar, dessa forma tão direta, meus sentimentos. Tampouco sei como te relacionas com os outros caras que trepas por aí – trepas tão bem que é impossível não teres prática.
Pessoas deveriam ser pessoas independentemente das paus e dos bucetas.Quero crer que poderemos nos divertir por aí – sem o secretamente.
Não espero respostas, mas se vierem, por favor: sem eufemismos.

Teu Leonino daquela noite.

Desce o sangue.

Carol ferve. Seu sangue não desce, nunca desceu. Hormônios em cápsulas coloridas carregam sua feminilidade preta. As cápsulas liberam seu corpo da jaula; talvez liberar não seja a palavra certa, transformar, isso, Carol é uma transformação de si mesma. AS cápsulas, que Carol toma religiosamente, todos os dias, transformam sua antiga jaula. Jaula vira templo. Jaula e templo coexistindo em um mesmo ser.Seu corpo foi construído de silicone. O silicone é seu sexo. E seu sexo não faz um bom sexo.Carol ferve e o sangue nunca desce.Carol nasceu aos 17 anos. Hoje é filha apenas de pai, a mãe é mãe de viado; felizmente separados.Carol fervia, arrasava na roupa colada, na Elke na cara. Sobreviveu a monstruosidades na infância e na adolescência, que comemorava o fim, naquela noite, com @s amig@s. Comemorava não apenas o fim da adolescência legal, mas também o pagamento da última parcela da cirurgia.Fim dos seventeen (but now very sweet ),da parcela do silicone e de CarolAndando na rua, céu de cor azul-cinco-da-manhã. Um som de motor, um grito, um corpo. Um corpo e mais um silicone sujo de sangue em frente à boate dos baitolas.